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terça-feira, 13 de novembro de 2007

O universo poético de Zezé Ribeiro

Uma casa pra ser bem arejada
Precisa doze janela
E quem fez morava nela
Morreu já bem velhinho
Viu o sol amarelinho
Quando o dia amanhecia
Plantava abóbora e melancia
Achava que era uma fartura
Deus botou na sepultura
Porque achou que merecia

A casa das doze janela
O porquê meu pai não dizia
Que eu fazia uma poesia
Com palavras da escritura
Era uma boa criatura
Que não tinha covardia
Trabalhava todo dia
E era homem do pesado
Morreu foi desprezado
Que pra dar jeito não podia

A casa das doze janelas
Foi uma luz mal acendida
Foi querer quem não lhe quer
Deu muita passada perdida
Foi na canela uma pancada
Uma história mal contada
Ou palavra mal entendida

A casa das doze janelas
Eu digo e não me engano
Foi doze filhos de Jacó
E doze mês que tem o ano
Doze apóstolo e meio dia
E Jesus aos doze ano

Um dia eu tenho um destino
De pra longe ir viajando
Já hoje estou planejando
De andar pelo sertão
Sem gastar nenhum tostão
Comprando um cd ou um disco
Cortando um pau pelo risco
Dê o caso no que der
Vou até Canindé
Visitar o São Francisco.

O tempo ruim que eu achei
No tempo que era criança
Esse tempo já se passou
Mas eu ainda tenho a lembrança
Que eu via anoitecer
Apanhar sem merecer
E a não poder fazer vingança

Eu comparo um analfabeto
Com um chocalho sem balado
É um barco sem motor
E um vaqueiro sem cavalo
É chamado de ignorante
É igual um viajante
Que está com o pé cheio de calo

Eu vi um falador sem leitura
Com o nome de papagaio
Conversando sem ter boca
Pulando em cima do gaio
Vi um louro tomar café
E um devoto sem fé
Rezando no mês de maio

Eu na fração decimal
Com dois décimos eu faço um quinto
Pego um ovo e quebro ele
Pra saber se tem um pinto
Faço a cobra engolir rato
Pego ela acocho e mato
Tiro o coro e faço cinto

Eu gosto da brincadeira
E feliz de quem não se zanga
Pra dor de barriga eu ensino
Moleque duro e pitanga
Nunca fui cara perverso
Nasci pra fazer verso
E meus irmãos pra fazer canga

Um comentário:

Anônimo disse...

Zezé Ribeiro continue assim seus versos vem da nossa terra e não se encontra mais isso no dia de hoje. Um grande abraço de um amigo .
Renato F. Martins São Paulo Capital